sábado, 16 de abril de 2011

Insônia e saudades

Sobre o que você pensa quando fica acordado à noite, no escuro, sem conseguir dormir?
Para mim, os momentos de insônia são pontuados pela saudade.
Tenho saudades imensas da minha mãe, do meu pai, da vida que tinha e não tenho mais. Saudades das risadas, dos carinhos, dos momentos felizes e despreocupados. Da simplicidade. De estar cercada por pessoas que eu amo e que me amam também.
Não quero cair nos clichês do "eu era feliz e não sabia" ou "nós só sabemos dar valor às coisas depois que as perdemos". Não tenho a pretensão de dizer que minha vida era perfeita, que minha convivência familiar era indefectível. Havia defeitos. E muitos. Meu pai era severo demais, fechado a qualquer tipo de diálogo, e me educava segundo diretrizes mais adequadas à década de quarenta. Minha mãe, por outro lado, era submissa demais, e apresentava variações de humor que tornavam praticamente impossível qualquer conversa que durasse mais do que vinte minutos. E eu? Eu era uma adolescente que transitava entre a perfeição e a rebeldia - ganhava prêmios como melhor aluna da escola, mas procurava pequenas válvulas de escape para minhas frustrações, como os diversos piercings que tenho - até hoje - nas orelhas. Essa mistura de aspirações e gênios fazia de nossa pequena família um turbilhão constante de emoções, com conflitos quase diários. Na vinha visão infanto-juvenil, era quase insuportável. Mas era uma família. Era a minha família.
E então tudo mudou.
Meu pai foi diagnosticado com câncer de intestino. Em seis terríveis meses, definhou e morreu, deixando para trás eu e minha mãe, ambas totalmente despreparadas para enfrentar a vida. Após incontáveis horas de terapia, inúmeras bebedeiras e diversos vexames públicos, acabei conseguindo desbravar o mundo. Minha mãe, não.
Sete anos depois – a maior parte dos quais mergulhados em uma depressão abismal -, minha mãe desenvolveu uma condição que foi tratada como câncer no estômago e no pulmão, mas que nunca foi plenamente explicada. Não houve tempo para isso. Ela faleceu uma única, avassaladora, e traumática semana. Me deixou só.
O senso de perda é tão grande que qualquer tentativa de descrevê-lo seria falha. Apesar de contar com um marido carinhoso, atencioso, que me oferece seu ombro sempre que eu choro de saudades (e não são poucas vezes), e a quem eu amo muito, é impossível ignorar o fato de que passei a andar pelo mundo sem guia. Perdi meu referencial. Sinto-me sozinha a todo instante, mesmo quando estou com pessoas de quem gosto muito. Nunca mais me senti feliz, nem ao menos contente. Perdi minha família. Esse pensamento está sempre lá, no fundo da minha mente, e não me deixa dormir.